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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Caco Barcellos entrevista Nello pela Revista Isto É





Um grupo de pacientes do Manicômio Judiciário do Juqueri (local no município de Franco da Rocha-SP) esta tentando obter a sua reabilitação pelo mais clássico dos métodos: o processo de educação. Em experiência inédita nos manicômios do país, onze pacientes-estudantes do Juqueri, após cinco meses de preparo intenso, estão enfrentando os exames supletivos de primeiro grau. Na prova de português,  feita nos últimos dias de outubro, o ex-engraxate João da Silva, 23 anos, preso por roubar alimentos e sabonetes em super mercados, declarado doente mental,paciente que rabisca seus versos na cela do Juqueri, teve a melhor nota do grupo,70 sobre 100.A sua redação com o título “Amor não se Nega”, foi dedicada a memórias pessoais.Alguns trechos: “Foi terrível o desacerto de papai e mamãe.Tudo começou com alguns abraços e muita pinga.Depois desandou para a briga, cuja lembrança me enche a vida...Jamais vou esquecer o dia que a imagem de meus pais deixou de existir.A mim não ensinaram nada, nem meu nome.Hoje com mais de 20 anos, ainda sonho em encontrar meus pais...sei que vou encontrá-los.Sofreremos no momento do encontro.Quero perguntar porque sumiram...Quero dizer que tenho muito amor por eles...

Numerosos entre os 710 moradores do Juqueri são pacientes “diferenciados”, definidos como aqueles que, apesar da doença mental conservaram a sua capacidade intelectual satisfatória. Como dizia Clarice Aparecida Scopin, uma assistente social do manicômio, “basta darmos assistência médica, muita atenção e carinho e o resto eles desenvolvem por si” (!?) (o grifo, exclamação e interrogação são meus).

Tanto é verdade que a iniciativa de estudar para o supletivo surgiu dos próprios pacientes do Juqueri. Em uma segunda feira de maio último, um deles, o ex-fuzileiro naval Nello Baia Junior, 31 anos, antigo aluno de Faculdade de Letras, decidiu transformar-se em professor. Homem atlético, de quase 1.90 m de altura, as roupas bem cuidadas. Nello é um líder natural no manicômio. Está preso por uma série de pequenos roubos (certo dia assaltou oito hotéis em seguida levando apenas toalhas de rosto) e relegado ao Juqueri por “ouvir vozes”. Nello organizou o Curso Supletivo, conseguiu a aprovação da diretoria do manicômio, dedicou-se ás aulas e ainda lutou para que a Secretaria de Educação permitisse a realização dos exames.

A um certo ponto, até ameaçou com um motim. “Supletivo ou levante” era a ameaça. Outro slogan era: “Queremos mostrar que somos normais.”
Nello conseguiu reunir um grupo inicial de trinta estudantes, dos quais dezesseis desistiram no meio do curso e três ganharam a liberdade. Os onze que sobraram estudam dez horas por dia. Alguns são doentes mentais de alta periculosidade cumprindo penas por crimes violentos. Todos, porém, compartilham uma esperança.”Tivemos apenas um surto...Podemos nos recuperar”...diz um dos candidatos do supletivo.
Caco Barcelos, Revista “Isto É”, 11/11/1981, pg.52

Caco é autor do livro “Rota 66”, que lhe custou oito anos de pesquisa, muitas noites de insônia e várias ameaças e que relata sobre a polícia que mais mata no mundo. A investigação levou à identificação de 4.200 vítimas, entre jovens e delinquentes, mortos pela Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar – agregada ao 1º Batalhão de Polícia Militar de São Paulo) Depois do lançamento do livro, Caco passou um período fora do Brasil,  como correspondente da Globo em Londres, pois sua vida corria risco - o livro irritou profundamente algumas esferas, sobretudo a dos coronéis da polícia militar.
Rota 66 especificamente é a história que conta como os PMs mataram três jovens de classe alta numa madrugada de Sampa do qual não restaram nenhum para contar história.
Se não fossem ricos ninguém ficaria sabendo da Rota 66 e do que as outras Rotas fizeram. Foi autor de outros best sellers como: “Nicarágua:A Revolução das Crianças”; “Abusado”, etc.
Hoje ainda trabalha na Rede Globo no programa "Profissão Repórter"


http://issuu.com/kellycristina/docs/o_homem_que_renasceu_das_cinzas

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