Fernado Gabeira escreve sobre Nello Baia Junior na reportagem que fez para a Revisto Isto É em 26 de janeiro de 1983:
"...Finalmente, no Pavilhão A, encontrei alguém que me confirmou o que suspeitava:estão encerradas dentro do manicômio algumas das pessoas mais fortes do Brasil.Seu nome é Nello Baia Junior.Com ele a conversa foi direta e franca.Não pode ser chamado de louco, mas foi jogado ali por vingança.Mantém-se com um esforço extraordinário, ora estudando e escrevendo (ele produz poemas no manicômio), ora tentando organizar os prêsos, em grande parte triturados pelo sistema carcerário, caídos pelos corredores, superaplicados com Anatensol.
Lutando contra uma formidável máquina de quebrar pessoas, driblando a lobotomia química e cotidiana, Nello é sobrevivente da batalha que seus livros e poemas certamente contarão um dia, muito melhor que eu.Limpo, barbeado,com uma impecável camisa branca, ele enfrentou os gravadores durante quase uma hora, discorrendo sobre a vida da cadeia, analisando, denunciando, fazendo sugestões e, finalmente entristecendo-se ao relatar o seu fracasso:criou um curso supletivo para os presos e o curso foi bombardeado pelos responsávies pelopresídio.
O curso de Nello foi proibido.A oficina comprada no Governo Maluf não funciona e as máquinas novas já estão cobertas pela ferrugem.É proibido esstudar e trabalhar.Só é permitido na realidade abrir a boca para tomar a droga nossa de cada dia.
Depois que conheci Nello no manicômio, visita que pretendo renovar muitas vezes, compreendi que o diretor da penitenciária de Bangu, no Rio,recusa-se a receber a liderança dos presos, argumentando que não aceita líderes, apenas presos individualizados. O diretor de Bangu tem medo do mundo novo que está brilhando nos olhos dospresos.Pois, de minha parte, fiquei mais orgulhoso, ao saber que ali nasceu e sobreviveu uma pessoa como Nello Baia Junior, que, no fundo do Pavilhão A, trabalha exaustivamente com idéias e palavras, enquanto lobos armados de injeção e metralhadora rondam a cela de sua lucidez..."
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